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quarta-feira, 17 de julho de 2013

É só papai, mamãe!!


Hoje, enquanto olhava meu filho ir com o pai ao mercado, permitindo-me exercer algumas atividades mais longas que só consigo fazer quando ele dorme ou está em outra companhia, sorri por dentro, pois ao receber o convite, ele olhou pra mim e disse: "eu vou com papai, tá mamãe? Daqui a pouco eu volto!". Fiquei sorrindo pensando que para nós, mães que assumem a dianteira no cuidado dos filhos, nem sempre é tudo tão simples assim. Há um momento na maternidade em que há uma ligação de amor que nasce das primeiras trocas afetivas entre a mãe e seu bebê que é significativa e transformadora. Não estou romantizando a maternidade, em certos momentos ela desafia qualquer visão holiwoodiana ou mesmo puramente romântica. Como tudo que Deus faz, eu creio que a maternidade nos dá pequenos e grandes confortos e alegrias, mas também nos desafia o tempo inteiro. Tendo dito isso, deixe-me prosseguir no meu argumento. Falava do laço de amor e aprendizagem de lugares afetivos que nasce das primeiras trocas entre a mãe e seu bebê, quando ocorre em um contexto minimamente saudável.


Um dia um aluno me questionou quando apresentei um estudo sobre as primeiras trocas entre mães e bebês, dizendo que este estudo estava filiado a uma matriz de pensamento judaico-cristã que situa a maternidade como sagrada tendo como protótipo Maria, blá blá blá... Respondi àquele aluno que isso não invalida certos pontos que expus naquela hora: no dia em que um homem der leite paterno naturalmente, ponderei, poderemos desconsiderar certas coisas. O contato inicial da mãe com a criança, em condições regulares, pode situar certas coisas como sendo da ordem natural. Sei que este pensamento me afasta do tipo de ideia que está na moda hoje em dia, em que se atribui tudo à criação humana e cultural. Não desconsidero o papel social e histórico nas formas de significação da realidade, apenas acho que há coisas dadas na natureza que são o começo de tudo. 


O que creio, com base numa série de estudos que poderia citar e acima de tudo nas minhas convicções cristãs, é que os elementos iniciais para uma relação são dados no nascimento. Há, por exemplo, estudos que mostram como o recém-nascido reage fisicamente diferente ao toque de uma outra pessoa e ao próprio toque. Esse outro a quem a criança passa a reagir é a mãe, quando esta está disponível no começo da experiência do nascimento, até mesmo pela própria satisfação das necessidades que primeiro são biológicas e depois se tornam afetivas e sociais, tanto da parte do filho como da mãe, quando esta se permite viver esse vínculo que não é automático, embora seja natural a não ser em condições adversas. 


No entanto, embora hoje se evite falar tanto nisso, essa relação tão singular que se constrói no conhecimento mutuo que nunca acaba, carece que exista mais alguém na relação. A mãe não foi criada por Deus para ser o mundo da criança! Ela foi convocada pelo Divino Planejador para amar seu filho e introduzi-lo no mundo, aprender com ele a ser mãe, pois creio que cada criança nos convoca à maternidade confrontando nossos defeitos e nos fazendo rever nossas ideias no espelho divino. Alguém precisa se fazer presente nessa relação tão dual. É, então que surge a necessidade do pai na vida da criança. Um outro jeito de acalentar, de acalmar, de mostrar a lei e o limite. Um outro jeito de brincar e de lembrar a nós mães que nossos filhos não são nossos, somos apenas aquelas que Deus designou para amar e educar esses pequenos. O pai permite a sua pequena filha encontrar alguém que lhe oferece a diferença real, inscrita no corpo e forma de funcionar. Já o menino precisa de alguém que o desafie e lhe ofereça um corpo maior mas semelhante ao seu. Porém este momento não é fácil e é constantemente desafiado por duas possibilidades de que ele não ocorra, a impossibilidade imposta pela própria mãe e a atual descrença e bairrismo a que o masculino tem sido submetido em nossa sociedade.


 Deixe-me conversar com você sobre o primeiro caso, desta vez vou dar um exemplo de um paciente que tive quando ainda atendia na clínica. O garoto veio com um diagnóstico de transtorno de atenção e hiperatividade. Logo de cara, enquanto entrevistava os pais, desconfiei daquele diagnóstico. O menino passou o tempo todo em nossa conversa montando um castelo minuciosamente com base no encarte do jogo de montar que estava disponível no consultório. Perguntei aos pais se o comportamento da criança variava em diferentes ambientes, já que eles se queixavam duma indisciplina bastante recorrente e uma agressividade extrema, especialmente com o pai, de quem a criança não aceitava o mínimo cuidado, limite ou mesmo afeto. Os pais logo me disseram que a única a quem a criança atendia era a mãe. O que vi daquele atendimento em diante foi uma mãe trancando o filho numa relação com ela, onde não cabiam outros. Estava, sem perceber, por inúmeras razões adversas do nascimento dessa criança e por necessidades outras suas, satisfeitas na relação errada, trancando o filho na relação impenetrável com ela e deixando o pai de fora. Quando isso começou a ser trabalhado, desde pedidos de que o pai trouxesse a criança ás consultas até outras sugestões construídas na relação, as coisas começaram a mudar e outros adultos entraram na vida do pequeno Guilherme. Ele só precisava que o pai pudesse ser seu pai e abrisse a porta para a vida social. 


Eu sei que muitas de nós passamos a maior parte do tempo com as crianças. Eu sei que temos aquela sensação que sabemos melhor que qualquer um entender nossos filhos. Sei também que muitas vezes nossos cuidados primorosos e detalhistas podem ser substituídos rapidinho por uma praticidade pouco detalhista... podemos dialogar sobre isto com nossos maridos, mas não devemos impedi-los de serem pais, sobre o risco de transformarmos o amor em posse e prejudicar nossos filhos. 


 Deixe-me agora falar da forma como a mídia e os acadêmicos de alguns grupos tem desprestigiado e mesmo ultrajado o universo masculino em nossa sociedade. As piadas sobre homens os traçam como seres pornográficos, sujos, cheios de hábitos de descortesia e falta de educação. Quando um homem é educado, cortês e prioriza sua família é tratado e nomeado como alguém que tem natureza feminina. Mulheres são lançadas a uma guerra por poder, muitas vezes a aceitam porque parecem combater as dores vividas em suas experiências anteriores, em vez de abrirem o peito para tratar a dor, ensinam seus filhos e filhas a olharem com desdem o mundo masculino.As casas se transformaram em cenários de guerra pelo poder. Mães educam suas filhas para olharem os maridos como inimigos descartáveis que devem ser fragilizados. Não há mais espaço para a parceria produtiva que Deus criou e as crianças sofrem. Por outro lado, a sociedade produz garotões imaturos nos quais só crescem os bíceps e em quem não há um minimo de senso de responsabilidade paterna. Lançam a suas esposas o fardo de serem mães e pais, ou se aliam às esposas e lançam o fardo à babá, usando os filhos apenas quando estes podem ser parte da exibição. Garotões mimados pelos papais e seus cartões de crédito, que não sabem o valor do trabalho honesto e das responsabilidades adultas. Crise paterna!!! 


Vou fechar esse post relembrando o dia em que eu quis me meter no passeio de meu pequeno com o pai. Eu confesso que achava que minha presença seria de ajuda. Meu filho olhou com desgosto e disse: "não mamãe! Pro posto é só Benjamin e papai!!! A gente brinca quando voltar". Fiquei enciumada! Meu marido tinha no rosto um sorriso de conquista e disse: "é só passeio dos meninos, não é?" Ele concordou com a cabeça que sim. Eu me calei. Vi que meu filho estava precisando de um momento dos rapazes e eu desfrutei de alguns minutos de tranqüilidade e leitura e aprendi que há momentos em que é só papai que conta. Então, deixemos nossos filhos descobrirem que existe amor, limite e afeto além da mamãe. Talvez seu marido precise de sugestões carinhosas, pois ache que não sabe interagir com os filhos, mas deixemos que os pais e os filhos se descubram e não tiremos de uma criança com amargura e magoas não resolvidas o direito de amar o pai.

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