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quinta-feira, 12 de março de 2020

Princípios norteadores para educar os filhos numa abordagem intencionalmente bíblica- Parte 1



   
É incontestável que estamos a lidar com um mundo que é cada dia mais hostil à fé cristã e ao modo de vida que esta impõe. Não tem sido fácil fazer face a esse fato e remar contra a maré num mundo que parece validar qualquer tipo de crença desde que ela não pertença ao Cristianismo. 

  No cenário prático, isso parece sequer ser notado. O dia-a-dia apertado que cada vez exige mais dos pais fora do lar tem ofuscado discussões desse tipo. O grande desafio de muitas mães com quem lido no meu dia-a-dia é guardarem energia e tempo para trabalharem com filhos cansados de um dia que é quase uma maratona. Na realidade,  ao chegar em casa,  eles só querem relaxar. Soma-se a isso o fato de que, muitas vezes, elas (as mães) acumulam tarefas domésticas e cansaço também. Essa realidade parece quase uma imposição e a sobrevivência material cada vez mais exigente , se não tivermos cuidado, torna os lares em dormitórios e os filhos vão crescendo sem relação de qualidade com os pais, rumo e direção. No entanto, fomos chamados a viver a diferença e a encarar a nossa época e responder a ela. Eu penso em Joquebede, mãe de Moises, que era parte de um povo escravizado não tinha uma vida de rainha, mas isso não impediu que seu filho desenvolvesse a identidade hebreia. Mesmo estando no palácio, o coração de Moisés era hebreu. Isso mostra que como mãe aquela mulher comum exercitou seu papel. 

  Por mais difícil que seja tua rotina e por mais desafiante que nos seja ser mãe, há uma missão entregue. Não sei se é teu caso mas eu oro por filhos que sintam parte do Israel de Deus mesmo que estejam no palácio. Filhos que tenham uma clara consciência de que pertencem a Deus não são fruto do acaso ou de uma natureza intrínseca boa, eles são fruto de um trabalhar constante do Espirito Santo e Deus usa os pais como instrumentos seus nesse processo que ocorre e gera uma identidade e coração transformados.

   Como dissemos anteriormente, vivemos num tempo difícil,  nomeado como pós-cristão e como a era da pós-verdade. Nele, os pilares da fé são cada vez mais relativizados. Todavia, é o mundo que se Cristo não voltar nossos filhos são chamados a enfrentar e confrontar, sem se amoldarem à sua forma de pensar e agir (Rm 12.2). Há alguns princípios que precisam nortear a educação dos pequeninos e aos quais precisamos estar atentas como mães. Listarei alguns que parecem importantes de serem estabelecidos e vividos na nossa maternidade. 

1. O Principio do salvamento único e suficiente:

   Abra sua Bíblia em João 3:16. Podes achar que esse versículo nada tem a ver com o tema, todavia, tudo começa aí! Há nele, alguns elementos que precisam ser ressaltados para qualquer criança.


  • Deus amou o mundo: Ele não amou pessoas boazinhas. Ele amou o mundo pecador. Ele amou as pessoas e providenciou uma solução para seu estado de condenação eterna e separação dEle.
  •  Deus Agiu: Ele deu seu Filho, Jesus Cristo, para fazer por nós que nós mesmos não podíamos.
  • Embora Deus tenha providenciado o resgate, faz-se necessário que a fé seja gerada no coração.
  • A morte de Cristo  nos ofereceu uma nova oportunidade e nos livrou das consequências irrevogáveis do pecado (perecer).
  • A morte de Cristo nos garante uma eternidade com Ele, propósito com o qual Ele nos criou (vivermos eternamente em. comunhão com Ele).


Talvez penses  que esse verso não se aplica ao teu filho, pois ele frequenta a igreja desde teu ventre. Se leres Romanos 3.23, entenderas que todos somos pecadores e precisamos de um salvador. Toda pessoa salva, passou por um processo em que seus olhos foram abertos para as verdades de Deus e o plano da salvação. Mesmo quem não tem um dia memorável em que respondeu ao apelo de alguém, foi aos poucos dando-se conta das consequências do pecado e do plano salvifico da cruz. Sem crer em Cristo e no seu sacrifício aplicado a nós individualmente não há salvação.

O teu filho precisa ser apresentado ao amor infinito, imensurável e suficiente de Deus. Precisa entender que o maior e mais necessário presente de Deus é o sacrifício de Jesus na cruz do calvário. Fale para ele o plano da salvação do começo ao fim! Nunca canse de falar sobre. Conte que Deus o ama que Jesus venceu o pecado na cruz por amor a ele. A salvação é uma experiência transformadora!

É importante  investir na santificação de seu filho,  mas antes invista ardentemente em sua salvação. Se ele receber a Cristo como salvador, logo poderá operar a salvação (Fp 2.12) e o Espírito Santo começará a atuar no viver dele. Como mãe, tu deves ser um instrumento de Deus para dirigi-lo no habito da oração e da leitura da palavra. A porta para o reino de Deus é a salvação. A vida santa e piedosa deve ser fruto da salvação e da busca por desenvolver o caráter de Cristo. Isso não é pouco relevante mas se não for fruto de um encontro com Deus, nada será. Ora pela salvação do teu filho. Ele pode conhecer as historias da Bíblia, mas da mesma forma que conhece fabulas e contos com lições morais. É preciso que ele saiba que a palavra é viva e eficaz e que o centro dela é o sacrifício de Cristo, o cordeiro imaculado. Ore todo dia, como um pregador comprometido com o evangelho da cruz,  para que sejas um instrumento de Deus na pregação do evangelho a teus filhos. Fala com ele numa linguagem simples e direta. Peça sabedoria a Deus e que o Santo Espirito o convença (Jo 16.8)

A transformação genuína só se dará se os olhos de teus filhos forem abertos. Eles precisam olhar para o mundo e acha-lo muito pouco diante do tesouro que têm dentro. Encontrar seu tudo em Cristo fará com que eles não sejam tentados a colocar o coração em coisas mundanas e fúteis.  Lutar para que seus filhos recebam a Cristo como salvador e Senhor é a prioridade.  Muitos pais ensinam a seus filhos uma lista, um código moral. Logo, assustam os filhos com o inferno e treinam seu comportamento com punições. Isso tudo surte um certo efeito, mas não chega ao coração.  

Se teus filhos não dão sinais de viver a salvação em Cristo, de operarem a sua salvação, se pecar não os leva ao arrependimento genuíno, temos aqui um problema:eles não valorizam o sacrifício de Cristo, logo há um sinal amarelo ou vermelho que pede que pares e análises a situação. Que dizem os seus passos? É ele alguém que goza da salvação e dá passos no caminho da santificação?
Essas perguntas levam-nos ao próximo princípio que segue uma salvação genuína.

2. O principio da Santificação e discipulado constante

Hebreus 12.14 nos diz: "Segui a paz com todos e a santificação sem a qual ninguém verá ao Senhor". A santificação é o segundo aspecto que deve permear a nossa relação como discipuladores de nossos filhos. Eu introduzo aqui o termo discipuladores porque quero levá-la à compreensão de que antes de pensar sobre a santificação de nossos filhos precisamos pensar por quê e para que estamos a educá-los.
Como mãe, podes educar o teu filho para o sucesso académico e para muitos outros propósitos. Podes ensinar-lhe uma moral rígida e treinar o seu comportamento, nada disso é errado em si. Todavia, isso não deixa claro seu propósito de ser instrumento de Deus na santificação de teu filho, nem torna-los discípulos do mestre amado. Uma das realidades que mais impactou meu coração e tem norteado o rumo da educação daqueles que o Senhor me confiou junto com meu marido é a ideia de que estou a educar e instruir meus filhos para os propósitos de Deus. Não é uma questão de suprimir comportamentos que  nos irritam e permitir aqueles que não nos incomodam. Pais que têm consciência que a vida de seus filhos têm propósitos divinos não podem negligenciar o compromisso de educa-los na direção que a palavra de Deus ordena.

Ao morrer por nós na cruz ,Jesus mudou a nossa  situação frente a Deus e ao pecado. A Bíblia nos diz que Ele desfez a separação que existia entre nós e Deus, anulando nossa divida com o Pai celestial (Ef 2.11-15). Por pequeno que seu filho seja, ele precisa compreender que ao aceitar a Cristo, ele é feito filho de Deus e morada do Espirito Santo. Ele hospeda no controle de sua vida um conselheiro e consolador (Jo16.13, I Jo 2.24-27) e tem acesso à palavra de Deus através de seus pais e de suas próprias leituras bíblicas, quando ja sabe ler. Muitos pais pensam que devem apenas reforçar o que seus filhos aprendem na igreja quando tiverem tempo. Todavia, não é isso que a Bíblia diz. O dever da instrução é primariamente seu como mãe e do pai, se ele também serve a Cristo. Provérbios 22:6 deixa claro que papel temos na vida de nossos filhos.

Quando se tem consciência que se é templo e morada do Espirito Santo é preciso investir na leitura da palavra, oração e vigilância ( que o apostolo Pedro vai chamar de sobriedade, ser sóbrio, estar atento- 1Pe 5.8-9) para desenvolvermos o caráter de Cristo em nós. A vida cristã é dinâmica e você é chamada a semear com vigilância e fé e ensinar seus filhos  a observarem as próprias veredas ao escrutínio da palavra . Se você ler a parábola do semeador, verá que não se trata simplesmente da semente do evangelho chegar ao coração de seus filhos, mas de haver um solo propicio ao progresso da semente. Temos a responsabilidade de disponibilizar a palavra e também de trabalhar diligentemente em oração para que ela possa prosperar. 

Assim como o apostolo Paulo foi chamado a pregar aos gentios e  não deixava de dar-lhes o genuíno alimento espiritual, fostes chamada a alimentar teus filhos com a palavra de Deus e orientá-los no caminho da santificação. Os termos santo, santificar, santificação são derivados do latim sanctus. Esse vocábulo geralmente é utilizado para traduzir o termo hebraico qadash  e no grego  está ligado ao substantivo hagiasmos  e ao verbo "hagiazo" . Ambos os termos conotam separação, consagragação. Isso significa que como tu, teu filho foi chamado para viver uma vida separada do curso do mundo (Rm12:2), uma vida diferente. Quando o apostolo nos adverte que não nos conformemos com o mundo que nos cerca (não nos moldemos a ele), ele claramente nos aconselha sobre vivermos em  oposição a isso uma vida transformada pela renovação do nosso entendimento, a fim de experimentarmos viver para o propósito que completa perfeitamente nossa existência (experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus). Se nossos filhos não estiverem a ser guiados nesse caminho, eles não experimentarão plenamente o propósito de sua existência. É possível dizer que uma criança ou jovem que tem sua mente capturada pela modelagem social e emocional do mundo, ou tempo em que vive, não poderá ter uma vida plena em que seus dons e talentos sejam empregados com exatidão ao propósito porque Deus o fez existir.

Viver em santidade enquanto se cresce indica que a forma como a criança relaciona-se, constrói sua auto-imagem e seu auto-conceito,  estabelece metas e prioridades, usa suas palavras e tempo, como faz qualquer coisa. Enfim, não é a mesma proposta pelo mundo ao seu redor e tu fostes chamada para introduzi-lo nesse caminho, caminhar com ele até o dia em que possa fazê-lo por conta própria. Levar nossos filhos à entenderem a necessidade da comunhão da oração, à busca por modelar seu caráter pela palavra de Deus e uma vida que o louve e glorifique é vital. Não é uma tarefa fácil, nem que deva ser desenvolvida por conta própria. Assim como um pastor  consagrado e entendedor de sua responsabilidade ora e chora diante de Deus para guiar seu rebanho, velar pelas almas de nossos filhos é um exercício que demanda constante dependência do Senhor.

Muitas mães estão preocupadas, legitimamente, em suprir tudo que podem materialmente aos filhos. Não vou deslegitimar essa busca. É normal que queiramos dar o melhor a nossos filhos. Todavia, é importante que nada substitua o processo de formação de nossos filhos como discípulos de Cristo. O papel de discipular é seu como mãe e também do pai, obviamente. Todavia, como este é um blog para mães, gostaria de centrar nossa conversa tendo como alvo a ti, mãe. Quando lemos o livro de Atos dos Apóstolos, vemos que o Espirito Santo impulsionou os discípulos não apenas a falar do amor e do juízo divino mas também a fazer discípulos. A palavra era pregada, cartas aos filhos na fé eram enviadas. Em Efeso, o apostolo Paulo chega a arrendar um imóvel e ali fazer um espaço de ensino da palavra para discipular os crentes. Paulo sentiu dores de partos para que Cristo fosse gerado nos crentes que evangelizou, mesmo na prisão, sua preocupação com a fé genuína e o caráter de Cristo gerado nos crentes era tão notável que, condenado à morte, se preocupou mais em escrever cartas inspiradas pelo Espirito Santo que em trabalhar para não morrer. Era uma entrega genuína, em que se gastou e se deixou gastar pelas almas daqueles a quem guiou no caminho do Senhor.

Não é simplesmente dizermos a nossos filhos pode isto e não pode aquilo. Trata-se de sedimentar bases solidas e firmes na palavra. Aqui, gostaria de louvar a Deus pela vida do meu pai e da minha mãe que mesmo em simplicidade tinham a compreensão de que precisávamos, como filhos, de um fundamento firme na rocha. Nunca se tratou de serem pais perfeitos, mas de amarem ao Senhor em fidelidade e levarem a sério essa responsabilidade. No lar em que cresci, eramos instados a ler as sagradas escrituras e orar. Meus pais eram incapazes de terceirizar para o departamento infantil da igreja a nossa formação como crentes.

Todavia, ao enxergar hoje isso de um outro lugar, o de mãe, vejo que há um fator importante também, o de nós estarmos preocupadas em desenvolver o caráter de Cristo em nós. O lugar de mãe é difícil porque temos também de ter o nosso altar pessoal em dia e estamos também caminhando com Cristo. Esse é um chamado e propósito que gera dores. Uma mãe que busca viver uma vida santa e vigiar suas veredas, ensina também os filhos com sua piedade não fingida.Ao falar sobre o assunto o apóstolo Paulo diz que sente dores de parto para que Cristo seja gerado nos crentes. Não espere que seja diferente, mamã. De fato, a mesma responsabilidade que um pastor tem com suas ovelhas , Deus deu a você por seus filhos. Por essa razão, conhecer o Senhor através de sua palavra, ter uma vida de oração e consagração a Deus e depender do Espirito Santo é primordial. Muitas vezes, lidamos com a educação de nossos filhos como se não exigisse nada de nós, o que não é verdade. Não precisarás fazer um curso universitário para isso. Precisarás conhecer a Deus através de sua palavra e da comunhão da oração. 

Ontem, eu tive o privilegio de ver o testemunho de um atleta americano. Na verdade, eu cheguei naquele video por conta do Ravi Zacharias. Era uma conversa com Ravi, o atleta e um mediador. O que gerou admiração e esperança foi o depoimento desse atleta sobre o que impactou sua vida e o fez seguir a Cristo. Ao ser perguntado se frequentou a igreja como criança, ele falou que sim. Todavia, foi especifico em asseverar que ir à igreja não o impactava enquanto era pequeno e crescia. Ele não explicitou as razões muito claramente, ou talvez eu fui tão impactada pela declaração que veio a seguir que sequer gravei bem as razões. Então, aquele jovem homem falou que a vida piedosa de seus pais tornou a verdade inescapavel para ele. Ver seu pai dedicando-se à palavra e vida de fé genuína capturaram a atenção daquele homem quando era criança e o fizeram render-se a Cristo Jesus.

Nossos filhos aprendem. Aprendem pela palavra pregada, aprendem pela sua participação na igreja, mas nosso exemplo como mães é forte e gera também um autentico discipulado. o apostolo Paulo aconselha os crentes de Corinto a seguirem seu exemplo na devoção em imitar o mestre. Paulo tinha a preocupação de oferecer sua vida como exemplo (I Co 11.1) e aconselha explicita e detalhadamente a Timoteo sobre sua responsabilidade em ser o exemplo dos fieis. Teu exemplo como mãe cristã, tendo uma fé sem fingimento (como a descrita em II Timoteo1:5), será uma referência na vida e jornada de teus filhos. 
Na jornada de aconselhamento e escuta, tenho sido tocada pela forma como muita gente repete padrões de comportamento presentes em seu seio familiar em seus momentos de dificuldade.  Deixamos inscrito no repertório de nossos filhos formas de reagir aos fatos e compreender realidades. Uma vez, lendo a biografia de um homem criado num lar cristão que tornou-se ateu e depois de muitos anos voltou à crer em Deus, li uma frase muito interessante. Em sua biografia, ele dizia que era necessário ter cuidado com aquilo que era gerado nas primeiras experiências de uma pessoa. Ele afirmava que era comum que, mesmo depois de afastar-se e renegar sua historia, a pessoa voltasse para aquilo que em algum momento se mostrou sólido e cheio de significados. Nossos filhos estão lendo a nossa vida e construindo sentido nela do que significa ser discípulo de Cristo. O apostolo Paulo podia dizer tomem o meu exemplo, o exemplo de alguém focado em imitar a Cristo. Seja uma boa referência e semeie a palavra no coração de seus filhos. ajude-os a lutar contra o pecado na medida em que você também luta contra ele em sua vida diária. Quando errar, mostre arrependimento e peça perdão a eles e ao Senhor. Não ache desculpas em seus filhos para o seu pecado. Seja um discípulo autêntico do Senhor. 

No próximo post, falaremos de alguns princípios que são desdobramentos deste que descrevemos. Eles são importantes, por isso embora sejam parte do processo  de santificação queremos dar especial destaque a cada um, pois são bastante abrangentes.
São eles: o princípio da palavra abundante, da comunicação abundante, da graça e misericórdia repartidas, da vigilância e prudência e da observância dos frutos.
Espero ter edificado sua vida como tenho sido edificada com essa reflexão. Que sejamos instrumentos de Deus na vida de nossos filhos.