O texto a seguir foi solicitado pelo Jornal AdNews e publicado na sua 42a edição.Como é um texto relativo à maternidade, eu o compartilho com os leitores do blog.
Ao
falarmos sobre a adultização, precisamos dizer que esse é um lado da moeda. Ao
mesmo tempo, em que se evita um mínimo de responsabilidade na infância e na
adolescência, que cada vez se prolonga mais,
erotiza-se a infância produzindo, especialmente, crianças sensualizadas e expostas, cada vez
mais cedo, a uma cultura que trata o corpo como objeto descartável do prazer
imediato. Esta é uma ambiguidade que se
traduz nas relações juvenis, cada vez mais precoces que podem ser resumidas na
seguinte frase: jovens imaturos para relacionamentos sérios, mas instruídos
para o exercício da sexualidade, numa conjunção de valores em que ser
responsável é não pegar DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e não engravidar.
É
importante desfazer mitos sobre a sexualidade infantil e, ao mesmo tempo,
refletir sobre quais são os limites e fronteiras de um desenvolvimento que
julgamos saudável. Não podemos e nem devemos tratar a criança como assexuada.
Qualquer pai ou mãe atento sabe que há um desenvolvimento do conhecimento do
corpo que se dá na infância, como processo do próprio reconhecimento de si e
das diferenças físicas, sociais e culturais sobre si mesmo e o outro. No entanto, a erotização da infância não pode
ser confundida com este aspecto do crescer. Dizer que não ceder ao modelo atual
de abordagem do tema é não tratar do desenvolvimento psicossexual da criança é
no mínimo intelectualmente desonesto!
No
Brasil, atentamos para este fenômeno a pouco tempo. Para muitos, falar
reprovando atitudes erotizantes é, inclusive, fruto de uma regulação
conservadora arcaica inibidora de liberdades individuais. No entanto,
este é sim um fenômeno que não começou agora. Vamos voltar no tempo,
especialmente aos anos oitenta, com a eclosão das apresentadoras infantis e suas ajudantes com seus figurinos, representado um misto de
ninfetas sensuais e personagens infantis. Já que estas, ao mesmo tempo, usavam penteados e figurinos coloridos e infantilizados mas
sem abandonar uma clara proposta sensual e reveladora do corpo. Programas como Gladys e seus bichinhos, exibido nos
anos 70, conhecido por seus personagens ingênuos e sua apresentadora chamada de
tia pelas crianças perderam espaço. As
tias cederam lugar a loiras e morenas esculturais! Logo, logo, essas se
tornaram figuras seguidas e presentes no imaginário infantil e passaram a ter
sua imagem explorada pela indústria do entretenimento em produtos próprios para
a infância.
Assim,
a sociedade brasileira começou a trilhar cada vez mais um caminho de erotização
da infância que hoje se revela na tentativa de tratar o prazer sexual e a discussão da sexualidade como algo
presente já na segunda infância. Não é exagero! É só lembrarmos das cartilhas
ensinando as crianças a tocarem seus genitais numa busca exploratória por
prazer e das constantes tentativas de incluir o que se chama de educação sexual
nas escolas. Além disto, pode-se também perceber a mudança no vestuário
infantil que a cada dia apresenta de forma mais
dominante modelos que aparecem nas vitrines adultas com uma proposta
sensual em tamanhos menores para as
crianças. Estas iniciativas se traduzem
no forte apelo infantil por cantoras sensuais adultas, que constroem seus
personagens e músicas com um apelo à erotização e a imagem de mulheres indomáveis e
dominadoras pela via da sensualidade. Já houve o tempo da Kelly Kye, agora
temos as músicas da funkeira Anita e os sons internacionais com proposta
sensual nas baladinhas das festas infantis de aniversário. Por exemplo, não é
incomum ir a um aniversário infantil de alguém que não professa a fé cristã e
ver as crianças enlouquecidas dançando ao som da voz masculina Shaggy que
canta: Hey, Sexy Lady! ou menininhas dançando as coreografias de Anita,
descendo até o chão e com vestuários na mesma proposta.
Os
defensores das formas contemporâneas de erotização da infância se dividem em
dois grupos. Primeiro, o dos que exploram a indústria do vestuário e do
entretenimento infantil, esta já descrevemos acima. Todavia, há aqueles que
rejeitam este titulo. Eles até me processariam se desse nome aos bois. São os
que defendem modelos ideológicos em que não se espera pela pergunta infantil
sobre a sexualidade, esses sentem uma forte necessidade de antecipar-se e
apresentar orientações sobre o comportamento sexual. Sim! Eles não querem falar
de biologia! Não querem esperar! Sua urgência é evidente e segue uma agenda
muito bem pensada e estabelecida. Querem entrar na sala de aula e sem que
nenhuma criança pergunte começar a falar. Isso, de preferencia, na ausência dos
arcaicos pais que produzem um modelo denominado por eles como modelo opressor de educação sexual. Essas tentativas estão na escola, mas não só
lá. São da mesma engenharia social que apresenta sutilmente sua mensagem
sexualizada nos desenhos animados e nas revistas e folhetins televisivos que já tiveram como
publico jovens, também adolescentes e hoje trabalham para atrair crianças entre
7 e 8 anos. Elas estão também nas cenas sutilmente colocadas em filmes infantis, em que só crianças que assistem aos mesmos filmes até memorizar as cenas percebem.
Os
engenheiros dessa nova ordem social propõem um olhar sobre quem anda na direção
oposta que os situa como arcaicos que têm uma visão assexuada da infância. Não
se trata disto! Trata-se de esperar as perguntas antes de dar informações!
Trata-se de esperar o corpo crescer antes de instigar a mente, trata-se de
tomar a mão de uma criança e andar no ritmo dela, em vez de colocar em mãos
massificantes o crescimento de nossos filhos. Trata-se de tratar o corpo das
nossas menininhas sem coisificá-los. Trata-se de dizer não a erotização da infância e deixar que eles
cresçam e se reconheçam sem pressa, tratando o outro como pessoa e não como uma
boca a mais a beijar e um corpo a mais a explorar quando crescerem. Trata-se de dizer não à erotização de nossos
pequeninos. Trata-se também de deixar que nossos pequenos saibam que valem o preço valioso do sangue do Cordeiro Unigenito, antes que alguém lhes digam que precisam desnudar o corpo numa self para terem valor para alguém. Nós, pais cristãos, somos responsáveis pela contracultura da
resistência! Goste o mundo, ou não, estamos na terra e continuaremos resistindo de pé, mesmo que todos se dobrem.
Irmã Ana Cláudia,
ResponderExcluirA paz do Senhor!
Gostei deste texto. Pura verdade. Tomei a liberdade de reproduzi-lo em meu blogue, com a devida fonte.
Em Cristo,
http://joaopaulomsouza.blogspot.com.br/
Paz do Senhor! Minha querida irmã tenho aprendido muito com você obrigada.
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