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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O menino curioso que gostava de perguntar



Vou falar de um garotinho que eu tive a benção de participar da infância. Como eu era parte da rede de apoio de sua mãe, sempre ficava com ele quando ela precisava. Pra mim, era impossível dizer não  à companhia daquele pequeno de olhos amendoados e cílios grandes.

Eu sempre gostava de contar histórias tanto a ele como à sua irmã. Um dia, enquanto contava a história do cego de Jericó, cheguei à conclusão dizendo que Jesus podia curar de qualquer coisa, quando ele me interpelou perguntando:
- Você já viu Ele curando?
- Menino! respondeu sua irmã, repreendendo-o, a Bíblia diz que ele cura! Isso é lá pergunta!!!
O garotinho, que na época tinha de 5 a 6 anos, respondeu com simplicidade:
- Eu só tô perguntando. Porque se ela nunca viu, como é que ela sabe que é verdade?
Eu acolhi com seriedade aquela pergunta. Não vi nela incredulidade, mas o desejo de um garotinho curioso de poder experimentar respostas que me pareceram vitais. Contei pra ele sobre o dia em que Deus trouxe à vida novamente um dos meus irmãos, seriamente acidentado num atropelamento. Contei também como Jesus curou aquele meu irmão das sequelas do acidente, posteriormente, num culto de oração.

- Huum, disse ele analisando meu argumento, mas era bom que Ele curasse alguém  na minha frente.
Eu respondi que iria orar pra que um dia ele pudesse ver um milagre.

Aquele coração analista e pesquisador me encantava. Um dia depois de tentar contar histórias bíblicas que ele já dizia saber, me senti sem saída. Ele me perguntou se eu não achava que precisava ler mais a  Bíblia para achar novas histórias. Me vi obrigada a ter algo novo pra ele e a única história que me veio à mente foi a da queda de Lúcifer. Desta vez, entramos numa discussão teológica infantil. Ele queria saber porque Deus não perdoou o inimigo. Essas eram suas perguntas!!! às vezes confesso que orei em meu coração para responde-las.

Esse menininho era singular. me contou que já havia recebido a Cristo, mas isso não isentava a seus pais ou até mesmo a mim de responder perguntas, muitas vezes profundas, sobre sua fé. Esse era ele. Cada livro que lia dos heróis da fé era uma nova conversa. 

O garotinho cresceu e coincidentemente se tornou uma das companhias prediletas de meu pequeno filho. Hoje, ele debuta na adolescência, vivendo bem no meio daquela fase em que se espanta com a própria voz grave, faz a gente se sentir velha e achatada frente ao seu marcante tamanho. Nestes dias, ele veio nos visitar e estávamos travando uma agradável conversa sobre escavações arqueológicas e outras coisas mais.  Por alguma razão, acabamos falando de seus colegas da escola, quando ele me contou que um de seus colegas da escola era ateu e gostava de filmes de terror. Ele me contou que sua mãe sabia da proximidade de ambos e lhe havia dito que era muito importante que ele o influenciasse e não o contrario e que se ele tivesse dúvidas sobre algo a procurasse ou mesmo ao pai.  Eu não resisti e perguntei, agora era minha vez de perguntar:
-E você já teve dúvidas sobre sua fé?
-Não, me respondeu ele. Meu amigo é um tonto! Como é que o acaso vai criar alguma coisa. Nada aparece do vazio. Tem muitas provas que Deus existe.
- Ah, respondi eu, admirada com a tranquilidade dele que montava um jogo com meu filho como se minha pergunta não fosse lá grande coisa. E os filmes de terror?
Ele, ainda sem alterar o olhar, procurando peças do jogo , me disse:
-Isso é outra idiotice. Qual o sentido de assistir uma coisa que só tem como objetivo assustar? É coisa de gente tonta, também. 

Eu sorri por dentro, percebi que o garotinho que fazia perguntas cresceu e se tornou um projeto de adolescente cheio de convicções e que construiu respostas. Que bom que teve alguém do seu lado pra responder suas perguntas! Lembrei de sua mãe, das vezes em que priorizou seus filhos... os projetos pessoais dela se concretizaram, mas sei que teve a coragem de entender que como diz o sábio Salomão tudo tem seu tempo. Ela discerniu o tempo e as estações. Agora pode sossegar. Seu filho tem um colega ateu que  não lhe demove a fé. Ela pôde fazer coisas individuais que muita gente não fez, mas na hora e medida certa. Muitas vezes a vi procurando livros e documentarios para seu pequeno curioso, explicando-lhe coisas, estimulando-o a ler, repassando a tarefa de casa e até discutindo dados históricos e geográficos com ele. Não estou dizendo que uma criança não possa passar por momentos de dúvida, apenas me regozijo com aquela situação.

Lá dentro, em meu coração, eu lembrei que um dia antes meu filho estava orando de olhos abertos. Quando sugeri que fechasse os olhos, ele disse que era pra ver se pela janela entrava o anjo Gabriel (eu tinha acabado de contar a história de Maria), Jesus e Papai do Céu. Eu sorri e ele me perguntou: mamãe, eu posso ver Ele quando??? Jesus não pode deixar eu ver Ele nem um pouquinho assim??? Só quando a gente chegar no céu é???

O menino que perguntava me deu esperança!!! Espero que estar perto pra ouvir as perguntas do meu menino, o ajudem a encontrar respostas e que desses diálogos surjam convicções pessoais e experiências com Cristo que sejam mais fortes do que as muitas leituras relativistas e vazias de sentido que ele possa encontrar. Não confio em mim mesma, mas que minha presença seja portadora da graça divina.

O menino que  me perguntava... Ele não me perguntou, me respondeu desta vez!!!


3 comentários:

  1. Chorei demais. Muito lindo. Eu quero estar perto assim dos meus filhos para que eles não busquem as respostar no lugar errado.

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  2. É muio gratificante estar perto de nosso filhos e ajudá-los sempre .

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