Por estes dias eu recebi um telefonema de uma amiga muito querida. Ela estava aflita e chorosa pois se sentia péssima! Ao indagar a razão, ela me disse aos prantos:
- Sinto que não dou conta! Eu queria muito dar conta de tudo e voltar a servir a Deus como antes! Me sinto inútil e incompetente! Olhe pra mim. O que é que eu faço? Não dou conta de cuidar das crianças, ser uma benção na igreja e ainda dar atenção ao meu marido.
Ela chorava copiosamente, falando de como se sentia.
Ela chorava copiosamente, falando de como se sentia.
Eu me senti na obrigação de encorajar aquela amiga. Já estive nesse lugar. Já senti que o mundo caía sobre minha cabeça. Ainda bem que ler minha Bíblia e conversar com sábias mulheres que me servem de referência como mães, esposas e servas de Cristo que quero ser, fui ajudada.
Quando o meu primeiro filho nasceu, nós estávamos servindo a Deus numa congregação com bastante empenho. Sempre que meu marido, como meu líder na igreja, me solicitava algo, lá estava eu. Houve tempos em que eu até achava novas atividades pra me ocupar no serviço cristão. Quando solteira, eu era ainda mais atuante. Mas aos poucos, minha vida foi mudando e a forma de servir a Deus, também. Lembro-me do dia em que uma irmã da igreja muito querida me abordou e pediu que eu fosse palestrante de uma série de palestras para moças. Expliquei que naquele momento isto não caberia no meu tempo. Eu tinha um bebê pequeno, ainda amamentava e no sábado era impraticável para mim. A irmã tentou de várias maneiras me convencer de que eu deveria fazer o que me pedira e que enquanto eu cuidasse da obra de Deus, Deus cuidaria da minha família. Segundo ela, eu era idólatra, pois estava incorrendo no grave erro de deixar de servir a Deus para servir ao meu filho e esposo. Eu tentei conversar com ela. Explique que pra mim servir a Deus e à minha família não eram coisas opostas. Não adiantou: tínhamos ideias claramente diferentes sobre o que é servir a Deus. Ela se embasava em versículos que estavam fora de contexto e me passou um sermão.
Sempre que escuto algo do tipo, fico refletindo sobre como nos falta compreender o que de fato é a obra de Deus. Criamos prioridades em nome de Deus e podemos muitas vezes, até com boa intenção, fazer muitas coisas nas quais não estamos escolhendo a melhor parte, achando que estamos servindo. Estes dias olhei mais de perto e com carinho uma mulher vista com desdém na minha comunidade cristã. Ela não prega, não coordena nada, não tem uma vida intelectual brilhante. Muitas vezes, seu marido não tem ao lado o que muitos chamariam de uma esposa à altura. O que eu fico pensando é: "Será que Deus vê assim?" Mas ela é mãe de quatro lindos filhos que ama e cuida e ensina sobre Deus. Cuida do marido e lhe faz bem. Além disto, é capaz de tocar uma reforma, criar beleza em sua casa e tem uma louvável força interior para enfrentar dias difíceis. É uma investidora e negociante nata. Faz renda extra sempre! Minha pergunta é: a quem essa mulher serve? Pra quem é cada fralda que troca? Pra quem é cada almoço gostoso que sai do seu fogão? A quem ela serve quando alenta o marido, cansado com boas palavras e dizendo: "Vá, em frente! Aqui eu cuido!" Pra quem é o culto doméstico que ela faz a cada noite com seu lindo quarteto?
Um outro exemplo, uma outra história: quando ainda dava aulas no seminário da minha igreja conheci mais de perto uma mulher, minha aluna e esposa de um dinâmico pastor da igreja que faço parte. Ela começou a me contar como regia às coisas em sua casa. Agora não sei se ela tem 3 ou 4 filhos, mas eis o que me contou: um dia colocando os filhos na condução para ir à escola ela fez um cálculo simples. Se deixasse de pagar condução ganharia um bom dinheiro. Ela e o marido estavam com as finanças apertadas, mas ela convenceu o marido a lhe dar o dinheiro da condução e ela veria como levaria os filhos à escola. Com o dinheiro da condução, ela negociou e comprou um fusca para deslocar as crianças e a si, sem preocupar o marido. Naquele momento em que conversamos, ela estava juntando dinheiro para construir pequenas casas para alugar. Acompanhava cada passo dos filhos e não deixava de ser produtiva e de ganhar seu dinheirinho para investir. Também ajudava o esposo na igreja, dentro de suas possibilidades. Ela me deu uma aula sobre como trocar gastos supérfluos por investimentos simples. No fim da conversa, disse a ela que me tornei sua admiradora, ela deu de ombros e acho que até hoje, por mais que eu diga isso quando nos vemos, não sabe como impactou minha vida. Ao ver seu marido pregar ou desempenhar sua função na igreja, eu penso logo nela e no seu ministério junto àquele homem e aos seus filhos. Como aquela mulher simples vale para mim!
Não estou dizendo que devemos ser ausentes na nossa comunidade cristã. Nem há base bíblica para que sejamos relapsos e menosprezemos a importância de congregar entre irmãos. No entanto, o apostolo Paulo já nos alerta que o serviço prioritário de uma mãe e esposa cristã é desenvolvido em seu lar. Quando somos solteiras, há clareza nas cartas paulinas sobre a expectativa divina de que nossos filhos e marido sejam o centro do nosso serviço ao Senhor. Você pode servir a Deus na igreja. No entanto, tenho aprendido que isto não pode competir com a missão confiada por Deus no lar. este aprendizado não veio do nada. Não era tão claro para mim desde o inicio. Aprendi à medida que abri o coração.
Quando solteira eu era ativa nas atividades da igreja. Se fosse solicitada, lá estava eu. Como já falei, quando casei, auxiliar meu esposo nas atividades da igreja estava no topo da lista. No entanto, a cada filho meu que nasceu senti um despertamento para servir mais a Deus dentro do meu lar. Esta semana eu li um feliz depoimento de uma missionária leitora do blog que fez a seguinte afirmação: se alguém tem que perder, se tenho que abrir mão de algo que não seja minha família! Essa ideia resumiria um pouco a transformação que o Santo Espirito causou em mim.
Não, não estou dizendo que você deva resumir sua vida ao seu lar. Não estou dizendo que só importa a necessidade dos seus. Nenhuma mulher que queira viver provérbios 31 em sua plenitude pensará assim. Estou dizendo que se seu serviço em casa, seu cuidado com os seus, se feito de coração, se feito visando a obediência a Cristo é também uma forma de servir a Deus. Se você está vivendo um tempo em que os seus tomam a maior parte do seu tempo, não se sinta inútil. Você está fazendo exatamente o que Deus considera prioridade! Há estações em nossas vidas, tempos diferentes, e em cada um desses momentos cabe a nós discernir através da palavra viva o que Deus quer de nós. Além disso, desacelerar, em certas ocupações, pode trazer para sua vida outros ministérios que são necessários na vida da igreja, mas que muitas vezes por serem aquelas funções sem visibilidade contam com poucos obreiros.
Vou dar um exemplo: quando desacelerei nas atividades da igreja , eu pude me ocupar de outras coisas. Uma delas, pude voltar a ser voluntária do departamento infantil. Como bebês, meus dois filhos precisaram da minha presença no departamento infantil. Há anos eu estava nas classes femininas. No entanto, é no maternalzinho da EBD que tenho me sentido útil ao Senhor. Além de levar a palavra aos pequeninos, já confortei mães tristes, já orei e ajudei aquelas que lidam com filhos rebeldes, já encorajei mães que pensavam em deixar de levar os filhos à igreja porque dão trabalho, já tive oportunidades lindas de servir ao Senhor naquele singelo cantinho, mesmo que fosse limpando um pequenino. Um dia desses, um irmão muito querido me perguntou se não era desperdício que eu estivesse no departamento infantil. Expliquei para ele que nunca me senti tão útil ao reino e ao meu Mestre e Salvador. Sentada no banco, indo trocar as fraldas de Beatriz no berçário do templo, e em tantos outros momentos pude olhar e orar por aquelas que talvez não me procurariam se eu estivesse correndo entre cargos e responsabilidades de visibilidade. É quando elas me percebem como mãe comum que tomam coragem e me procuram. Hoje entendo, Deus precisa de nós exatamente onde Ele nos planta na sua casa. Podemos, sim, ser benção para Deus no nosso lar:
- Você pode se tornar uma intercessora fiel;
- Pode usar seu telefone e seu lar para acolher quem precisa de encorajamento;
- Pode abençoar pequenos corações dos seus filhos e de outras crianças através da atmosfera que você cria em seu lar e da palavra que compartilha;
- Pode ser hospitaleira, pode servir aos necessitados em qualquer âmbito da vida;
- Pode ser ativa na sua igreja local da forma que lhe é possível, fazendo o que pode com dedicação em vez de tentar fazer tudo sem foco e com desleixo.
Faz alguns meses que pedi oração a um grupo de mães da nossa igreja. Juntas mantemos um abençoado grupo de encorajamento no WhatsApp. Pedi que orassem pois dois amiguinhos do meu filho iam à minha casa brincar com ele. Queria que nosso lar fosse um testemunho vivo de Cristo e Seu amor. Fiquei muito tocada quando em resposta a meu pedido, uma das mães, a querida Gilnaide Teles (que aparece ao lado de sua Laurinha na foto abaixo), compartilhou o seguinte testemunho, que postarei aqui usando suas próprias palavras:
A palavra havia sido semeada no meu pequeno coração. Sendo pequena demais não podia absorver tudo que era falado, mas guardei a palavra dita por uma tia na escola dominical: `que seus pés nunca se desviem do caminho de Deus, e sempre que for dormir ajoelhe-se e peça pra Jesus ficar ao seu lado! Fale o que sente para ele, assim serão sempre amigos'.
Quase dois anos depois nos mudamos para outro bairro e descobri que naquela rua apenas nossa família não era crente. Não temos ideias de como as crianças são usadas por Deus para levar Jesus às pessoas. Conheci naquela rua uma menina e nos tornamos amigas, ela e sua família serviam a Deus. Essa pequena menina que tinha nove anos começou a falar de Jesus pra mim. Eu nunca tinha visto uma família tão cheia de Deus, tão amorosa e dedicada ao serviço do Senhor. Sempre me convidavam para as refeiçoes. Eu amava pois eram momentos maravilhosos; havia um momento de louvor e oração. O pai cantava com a mãe e as duas filhas, as crianças, recitavam versos dos Salmos e na oração pareciam sentir Jesus presente e choravam muito.
Naquele lar, era tudo muito simples mas o que lhes era necessário jamais faltava: A presença de Jesus. Meu coração batia forte e eu chorava sentindo algo diferente e pensava: também quero que minha família seja assim! Eles sempre me convidavam para ir à EBD com eles e, um dia, depois de pedir à minha mãe fui com eles…era escola animada.
Na ocasião o Pr. Joabe Fortunato, na época presbítero, estava trazendo a palavra, quando ele fez o convite lá estava eu com as mãos levantadas e chorando. Minhas coleguinhas também choraram e me abraçaram.Cheguei em casa, corri para o banheiro e chorei muito,pois pensei como seria difícil servir a Deus sozinha.Pedi a Jesus que salvasse minha mãe.
Enxuguei os olhos e disse a mamãe que era crente. Ela disse:ótimo! Também serei e juntas vamos servir a Deus novamente. Desta vez não me desviarei mais! Naquele domingo, ela aceitou e juntas seguimos a Deus.''
Conto este testemunho porque pra mim é evidente que o maior trabalho que uma mãe pode fazer para Cristo é estabelecer seu reino em seu lar. Sabemos que biblicamente o pai tem o sacerdócio; ele é o líder espiritual, mas uma mãe que entende seu papel fará cada pequena tarefa para o Senhor, em cada pequeno recanto do seu lar (mesmo naquele dia em que nem tudo estiver em ordem), haverá reflexos da gloria divina. Cada filho que escolher receber a Cristo será um missionário do reino do Senhor! Isto eu aprendi com minha mãe e com cada mulher de Deus que me influenciou.
Você não tem que fazer tudo na igreja, não tem que resolver tudo e dar conta de tudo. Apenas leia sua Bíblia, escute os homens de Deus e as mulheres mais velhas que entendem a palavra e os seus apelos e você dirá como Neemias: estou fazendo uma grande obra! Não posso parar! Obviamente, devemos contribuir com nossa igreja local. Aprendi com uma mulher de Deus, de cabelos brancos uma lição. Ela, a quem Deus abriu a madre apenas uma vez e por milagre a fez gerar um filho, me disse assim: querida, quando tive meu filho, meu marido e eu discernimos que até ele se tornar um rapaz e ultrapassar a adolescência o critério era: O serviço que Deus tem pra mim é aquele em que meu filho e meu marido não parecem um empecilho. Este foi seu lema durante sua vida. Aquela palavra me atravessou a alma. E você? Onde Deus lhe plantou? O que Ele espera de você? Reflita e ore a respeito. E se o Santo Espirito tirar você de sua zona de conforto, chacoalhar sua alma e mudar suas prioridades, siga o seu vento! Acolha no coração a palavra viva. Não, não escute a mim e sim a Ele!
Amém
ResponderExcluirSem palavras para este texto, excelente!
ResponderExcluirTenho vivido momentos semelhantes, sou esposa de Pb e estamos em uma congregação pequena porém cheia de problemas. Estamos desenvolvendo um trabalho com os adolescentes e eu ainda coordeno a equipe de Cois da minha área e tenho uma bebê de 1 ano.Tenho feito as coisas que me cabem e que estão ao meu alcance sem que prejudique minha filha, quando preciso deixo com minha sogra e faço minhas atribuições, quando não posso não me culpo. Mas o que me preocupa é que nem sempre nossos líderes superiores entendem isso e cobram de nós coisas como se fossemos solteiras. Graças a Deus que meu esposo me entende e me apoia em tudo e quando não posso ir ele justifica.
ResponderExcluirQuerida Ana Claudia! Lindo texto, tenho certeza que muitas mães passam por essas mesmas indagações que você nessa fase da maternidade... e seu texto é um conforto. Você já conhece o MOPS? Um ministério cristão que existe há mais de 40 anos e está no Brasil há seis anos, que levando em consideração o seu primeiro chamado, sua famíia, estimula a mãe a servir ao Senhor alcançando outras mães ao seu redor... Visite-nos em www.mopsbr.com.br. Temos vários grupos espalhados no Brasil e oferecemos às mãezinhas um apoio constante. Deus abençoe!
ResponderExcluirBom ouvir sobre vocês! Passarei lá!
ExcluirTestemunho lindo, tocante!
ResponderExcluir