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sábado, 25 de julho de 2015

A Infância e o Lar

Bom dia! Paz para todos!

Estes dias tenho pensado bastante sobre como na atualidade as casas tornaram-se um lugar de passagem e não um lar, um lugar para habitar. Este é um mês em que as crianças estão, em sua maioria, em período de férias escolares ou no fim delas.  Crianças em casa, pais desesperados!  É uma constante!

O que vejo repetidamente, entre os pais que descobriram que pintar relaxa (e eu concordo! Pinto sempre com os pequenos) e os filhos que insistem na ideia de que antes de ler e escrever direito precisam de um smartphone, é que o lar deixou de ser aquele cantinho que traz alegria, o espaço comum onde damos boas risadas, comemos boas comidinhas com o tempero caseiro, para se tornar um dormitório e sala de TV. Pais não possuem paciência de ouvir e  ver crianças correndo e brincando e os filhos perderam o gosto pelo estar em casa. Fico espantada em ver como crianças ainda muito pequenas se queixam que em casa não há o que fazer ou perguntam irritadas: com que vou brincar agora? Então, se não podemos levá-los na viagem ao parque temático ou pagar a colônia de férias precisamos ceder e deixar que o videogame vença ou que sentar na frente da televisão o dia todo, visitando a geladeira a cada segundo seja a atividade aceita. Afinal, coitadinhos dos nossos filhos! Ele estão em casa entediados e não têm o que fazer. Ao mesmo tempo, não é incomum pais dizerem que se por um segundo a mais tiverem que estar de férias e com os filhos sob o seu comando vão enlouquecer! 

Ao pensar sobre isto, numa conversa com uma boa amiga, revisitei minha infância, enquanto ela me falava da sua numa pequena cidade do sertão paraibano. No caso da minha família, não tínhamos muito. Nossos pais eram missionários dando início a uma pequena congregação e isso não incluía nenhum glamour! Tínhamos o que comer e o que vestir, graças a Deus! Nossa casa era uma casinha pequena encima do templo: Dois quartos, um para nossos pais e outro era nosso, nele só cabiam o guarda-roupa e os beliches. Eu e meus dois irmãos dormíamos ali, e esporadicamente dividíamos o quarto com duas moças da igreja que nos visitavam, ora para fazer trabalhos da igreja com nossa mãe, ora para tomarem conta de nós por algumas poucas horas, Uli e Andrea. Os brinquedos eram aqueles que ganhávamos dos nossos avós e tios uma vez ao ano, quando nossos avós ou algum pastor vinha nos ver e a cada dois anos quando visitávamos nosso país. Nossos aniversários também eram época de repor brinquedos. Não tínhamos televisão , não sabíamos o que eram computadores ou vídeo-games e tablets nem existiam. Meu pai não permitia que vivêssemos na casa alheia. Ele sempre nos dizia que os filhos deveriam estar perto dos pais. Eramos, no entanto, imensamente felizes e nunca vi minha mãe dizer: tomara que as aulas voltem! Espero que cresçam logo! Estou enlouquecendo, nem nada do gênero. O que mudou? O que acontece hoje? Por que o lar, a casa, deixou de ser esse lugar onde queremos estar? Desde quando nossos filhos passaram a nos cansar tanto? Isto é bobagem ou de fato importa?

Eu creio que essa questão importa! Estamos criando uma geração inquieta e inconformada! Uma geração de descontentes infelizes está saindo mundo afora de nossos lares. Não, não sou contra passeios, diversões e tudo que com sabedoria e equilíbrio pudermos proporcionar a nossos filhos, mas fico pensando se as crianças de hoje não estão sendo criadas de um jeito em que não apreciam nada e querem apenas coisas efêmeras. Eu gosto de passear com meus  filhos sempre que podemos! No entanto, creio que é importante transformar o lar num lugar onde podemos estar e é nosso dever, vez por outra, ensinar nossos filhos a amarem o lugar onde juntos habitamos e apreciarem pequenos presentes do dia-a-dia que só a convivência em família trás. Há muitos momentos em que precisamos insistir baseadas na convicção adquirida a partir do que temos na memória: os momentos impagáveis vividos no lar. A convivência no lar me parece importante. Tenho a impressão que ela traduz o amor em gestos, cria laço afetivo entre irmãos, ensina a lidar com conflitos e dividir, e, por fim, instiga a criatividade mais que brincadeiras e atrativos prontos e acabados dos lugares caros da moda. Precisamos voltar para casa com urgência, em muitos sentidos! Precisamos ter o coração em casa! Precisamos de casas a prova de criança.  Precisamos ser mamães criativas e aprender a estar com nossos filhos em casa. Eu sei que eles crescem e se tornam mais exigentes e humildemente assumo que nunca vivi algum episódio  tentando traduzir essa importância a crianças maiores. Sou mãe de dois filhos pequenos que amam que me deite com eles na cama do mais velho, espremidos os três, para ler um livro para cada um. Por alguma razão, eles amam pegar no sono juntos  e comigo (ainda não sei como cabemos). Na idade deles, uma chuveirada rápida e divertida é tudo! Brincar de piratas na sala é festa! Espero ter sabedoria quando crescerem se se tornarem mais exigentes...



Lembro de um dia que meus irmãos e eu queríamos ir à praia. Queríamos muito! Era compreensível depois de um inverno cinza e frio em que não se podia brincar muito no quintal. Mar del Plata naquele ano teve temperaturas baixas. Não pudemos ir naquele dia, apesar do lindo sol de primavera. Mas minha mãe pediu que fechássemos os olhos, colocássemos nossos trajes de banho e nos deu um belo banho de mangueira e nós aos pulos gastamos toda a energia que tínhamos. Aproveitar os bons momentos, as coisas singelas da vida, ter experiências pra levar no coração pelo resto da nossa história são coisas impagáveis. Eu ainda guardo na memória as lembranças daquela minuscula casinha encima do templo: O meu primeiro bolo da vida (Bolo invertido de maçã), minhas bonecas espalhadas no quarto e meus irmãos tentando destruí-las, nossa tartaruga Manuelita, o cheiro do ravioli com frango feito por minha mãe, o hambúrguer com macarrão com manteiga e parmesão das terças (minha mãe passava o dia na reunião de senhoras e subia correndo pra nos alimentar), as bagunças no nosso quarto minúsculo, o cheiro da roupa recém lavada apanhada com minha mãe no frio congelante  e mesmo o dia que gravamos um áudio da história do povo de Deus saindo do Egito numa fita kasset, os inúmeros cultos domésticos e leituras bíblicas, as leituras dos livros que fiz quietinha sentada na cama, enfim…Tantas memórias que tenho que enxugar as lágrimas neste momento.

O ano passado fui levar meus filhos naquele lugar, hoje mais bonito e modificado, a casinha foi demolida e deu lugar a uma casa espaçosa para a atual família pastoral. De que senti saudades? Da casinha de poucos cômodos que não existe mais! Por que senti tanta saudade de um lugar pequeno e tão simples? Pra mim não era uma casa, ali era nosso lar. Tive, mais uma vez, saudade de ser criança. Por isso, creio que quando for necessário, eu insistirei com meus filhos para que parem um pouco em casa. Por hora eles gostam e constroem suas memórias na nossa casa, nosso lar. Não importa onde moremos, onde uma família que se ama estiver, ali é um lar.

Imagem: Adna S. Barbosa

Um comentário:

  1. Que lindo. Tenho lembranças boas da minha infância também. Uma pena que a geração de hoje é tão diferente da nossa. Nos contentávamos com o pouco, os recursos eram limitados e hoje...Hoje é um desafio, um sistema muito estranho. Só Deus para nos dar graça.

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