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quinta-feira, 21 de maio de 2015

Espelho quebrado

Eu estava com minha pequenina resolvendo algumas pendencias do meu atarefado dia, quando elas entraram e foram ao caixa pagar, assim como eu. Eram uma bela garotinha loira e sua mãe, muito bonita também. Beatriz logo se encarregou de abrir um largo sorriso e a pequena garota respondeu sorrindo também. A menina mostrou Beatriz fazendo graça e tudo que a mãe disse foi:

- Ajeita essa postura! Vai ficar com a barriga saliente!

De repente chegou uma amiga da mãe que se tornou o terceiro personagem de uma das conversa mais bizarras que eu já ouvi na minha vida. A amiga dava risadinhas chamando a mãe de maluca, enquanto esta distribuía impropérios sobre o desleixo da filha com a aparência e o futuro dela: não conseguir um bom namorado no futuro e sofrer bullying na escola.

Tive vontade de chorar! Pra ser franca, tive que conter meu espírito pra não dizer umas verdades para aquela mãe que em cinco minutos destruiu qualquer chance daquela garota pensar algo de bom sobre si como criação de Deus. Só interessava ser popular e ser igual ás outras. Aceitar o corpo como é era papo de garotas feias, segundo aquela mãe.

Isto me lembrou um dia em que entrei no elevador com minha bebê, na época bem mais rochenchuda.  Ela estava no tempo do aleitamento, sem inserção de nenhum outro alimento  em sua dieta. Beatriz deveria ter entre 3 a 4 meses. Uma senhora começou a me alertar sobre o peso de Beatriz. Falei para ela que minha filha estava sendo acompanhada pela pediatra e que seu peso estava dentro do padrão, assim como sua alimentação.  Aquela senhora gentilmente começou a me sugerir diminuir  o leite de Beatriz para  que ela fosse magra no futuro. Não, não era uma questão de saúde. Era uma questão de não sofrer bullying na escola!!! O mesmo argumento, de uma outra boca, numa outra circunstância. 

Um outro dia assisti a um documentário sobre garotas pequenas anoréxicas exibido pelo Discovery Home and Health, canal de TV a cabo. Eram garotinhas pequenas, contando calorias, tratando o alimento como inimigo. Pequenas garotas tratando o corpo como inadequado e com uma imagem corporal distorcida. Eu chorei! Abracei minha menininha com força e recitei a constatação do salmista: eu te louvo porque de um modo maravilhoso fui formado. Maravilhosas são as tuas obras, a minha alma o sabe bem!!! Eu sei! Minha Bibi não entendeu, mas eu queria deixar claro para mim sobre que olhar eu veria minha garota!

Outro dia, ouvi de uma amiga muito querida que as coisas tinham saído errado: Beatriz que é menina nasceu com cabelos cacheados e Benjamim com os cabelos lisos. Ela vai odiar isso, me disse ela. É a ditadura do cabelo liso, do corpo ampulheta para pequenas garotinhas. É o olhar do outro infligindo-lhes o lugar de inadequadas. Que bom que nossa filha tem uma mãe que gosta de seus cachos!
Tenho refletido muito sobre isto. Nós mamães podemos ajudar nossas garotinhas a sobreviverem neste mundo tão hostil e estigmatizante que produz garotinhas que em vez de brincar e sorrir estão usando maquiagem pesada e contando calorias. Pensei em como minha postura como mãe tem poder sobre minha filha.

O que estamos fazendo quanto a isso? Como nossas garotas nos enxergam? O que lhe dizemos? E mais como elas nos percebem ao abordar esta questão. Não há nada de errado em reduzir o consumo de calorias, especialmente aquelas que só nos envenenam e fazem mal. Podemos tentar estar melhor por saúde e pra nos sentirmos melhor. Eu mesmo confesso que tenho orado por mais disciplina em inserir atividades físicas no meu dia. Alguns dias são melhores que outros.Muitas vezes o cansaço e a própria demanda física do meu dia-a-dia tem  sido empecilho. Tenho enfrentado a escada do nono andar ao térreo, feito muita coisa a pé para tentar estar mais saudável e enfrentado exercícios em casa. É uma luta diária contra minha vontade. Mas se desejo o corpo alheio, se xingo minha existência, se trato meus ombros largos como uma praga, há uma garotinha seguindo meus passos. Ela já enfrentará pressão demais lá fora. Obviamente, nossos filhos precisam aprender sobre domínio próprio, os males da gula e sobre a necessidade de estarem bem em seus corpos. No entanto, estar bem a partir de nós mesmos e não assumindo o outro como padrão. Qual é o nosso melhor? Esse deve ser o padrão pra cada um.

Que Deus me ajude! Enquanto eu vivo, uma pequena garotinha me assiste e aprende valores comigo. Aprende  sobre o que é ser mulher. Que valores meus gestos transmitem? O que digo sobre mim mesmo, os outros e ela mesma? Esta é uma grande responsabilidade! Que Deus me ajude!

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